“Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela.”
Albert Einstein
Ato 1
O coveiro selou o túmulo de Amanda sob os sussurros que pediam justiça contra Roberto. Era quase possível tocar o desconforto que pairava no ar. A família da garota culpava o rapaz pela sua morte, ao mesmo tempo em que ele ainda tentava entender o que havia, de fato, acontecido.
A autópsia, por mais minuciosa, retornou inconclusiva.
“Provável infarto fulminante do miocárdio”
Roberto sabia que a magia tinha esgotado as forças da garota e esse era o real motivo de sua morte. Ainda tinha dúvidas se algo fora realizado pelos homens que a mantiveram captiva antes de sua chegada na casa, na noite do ocorrido. Mas tudo isso não importava mais, de certa forma, pois ela estava morta.
Dentre os presentes no serviço de despedida de Amanda, se destacava, por suas vestimentas, um homem que ninguém parecia conhecer. Trajava um sobretudo de couro e um chapéu fedora. Aproximando-se dele, Roberto perguntou:
– Olá, você é parente ou amigo de Amanda
– Nenhum dos dois. Sou o Agente Marcelo. Investigador criminal. Estou aqui para te fazer algumas perguntas, se não for muito incômodo neste momento.
Roberto apertou a mão do agente com uma expressão de surpresa e receio.
– Isso não podia ter esperado um pouco?
-Você me diz. Não deseja saber quem matou Amanda?
– Quem matou…? Ela morreu por causa de um problema do coração. É o que consta na autópsia, correto?
– E aquela bagunça toda na sua casa, o que pode me dizer sobre isso? – disse o agente, retirando um bloco de papel e uma caneta do bolso do casaco e se colocando a postos para escrever.
– Isso é um interrogatório? – perguntou Roberto, cruzando os braços.
As demais pessoas começaram a se reunir em torno dos dois para assistir o que estava acontecendo. Algum familiar de Amanda mais sobressaltado gritou do meio do aglomerado de pessoas:
– Prende ele!
– É! Isso aí! Leva ele preso! – Concordou uma voz feminina, também do meio da multidão.
Roberto tentou encontrar os incitadores com os cantos dos olhos, mas sem sucesso. Continuou seu desafio ao agente:
– Podemos continuar isso em outro lugar? Os ânimos aqui já não estão muito a meu favor – disse Roberto, segurando o homem pelo braço e o conduzindo para longe da platéia. – Você não está ajudando. Daqui a pouco vão acabar me linchando.
– Podemos sim. Aqui está meu cartão. Me ligue amanhã e marcaremos um horário.
Marcelo guardou seu bloco de notas e a caneta, virou as costas para o grupo de pessoas e foi embora. Alvoroçadas pelo acontecido, ficaram conversando alto enquanto Roberto tratou de juntar suas coisas para sair logo do cemitério.
Enquanto traçava os últimos passos até seu carro, ouviu seu telefone receber uma mensagem. Leu as seguintes palavras na tela:
“Eu sei como trazê-la de volta”